Por um lado, Negrão considera que Lisboa «não teve liderança», «não teve rumo», que Carmona «representa a equipa que nos últimos dois anos governou a cidade» e que «todos os lisboetas assistiram à desgraça que foi a gestão camarária». Por outro, e de acordo com o Diário de Notícias e o Público de 29 de Maio, parece que Lipari Pinto e António Proa farão parte da lista de Negrão.
Não se percebe. Se Marina Ferreira e Amaral Lopes são bons para a comissão administrativa, por que não são bons para a lista? Se os bons são Lipari e Proa, então por que não estão na comissão administrativa? Em que ficamos?
Tudo isto é triste, mas tudo isto é claro. Negrão procurou, primeiro, dividir a santíssima trindade, separando Carmona de Mendes e Teixeira da Cruz; depois, isolar Carmona da respectiva equipa, para, enfim, e sem se rir, vir responsabilizar em exclusivo Carmona enquanto «a face do problema». Percebe-se agora um pouco melhor porquê e com que alcance: porque Negrão pretendia, afinal, recuperar para a sua própria lista certos elementos da equipa que, na sua opinião, desgraçou a gestão de Lisboa.
Para além deste intolerável número de ilusionismo, como interpretar a manutenção de Sérgio Lipari Pinto e de António Proa na lista de Negrão? Leiamos o Paulo Gorjão no Bloguitica: «Como se esperava, a inclusão de Sérgio Lipari Pinto e António Prôa na lista de Fernando Negrão revela que Marques Mendes optou por jogar pelo seguro. O líder do PSD preferiu abdicar de lutar por uma vitória em Lisboa -- pouco provável, refira-se -- em troca da manutenção de apoios que se poderão vir a revelar muito importantes para a sua sobrevivência em 2008.»
Nada disto tem a ver com Lisboa, excepto na medida em que toma a cidade como pretexto. Tal como quando escolheu Carmona e afastou Valentim e Isaltino, e depois afastou Fontão, Gabriela Seara e Carmona, o dr. Marques Mendes está a pensar na sua própria liderança e a acautelar apoios partidários futuros no previsivelmente difícil contexto pós-eleitoral. Este posicionamento tem a vantagem de simplificar a leitura da noite eleitoral no caso de Negrão ter uma derrota expressiva, atrás de Carmona, por exemplo: o de já sabermos qual é a cara, e o nome da derrota.
Rui Branco