segunda-feira, 9 de julho de 2007

governar Lisboa

1.
Subordinar Lisboa a outras agendas não é boa política e as sondagens vão-se encarregando de penalizar quem tem optado por secundarizar os problemas da cidade na campanha. Mas não é demais denunciar quem o tem feito.
Sendo a capital do país, Lisboa nunca está imune a que as suas questões ditas "locais" se intercruzem com a agenda nacional. Os últimos anos, aliás, fornecem exemplos vários - quase todos pouco felizes para a cidade.
Mas isto é uma coisa, mais ou menos inevitável; outra, de todo inaceitável, é retirar os problemas de Lisboa do centro da campanha a pretexto de a transformar numa espécie de teste a eventuais descontentamentos a outros níveis, mas no fundo para esconder os limites das ideias de cada um, e da capacidade de as fazer vingar.

2.
Deste ponto de vista, Negrão é o caso mais flagrante. Para além de mau marketing, os cartazes que inundam Lisboa com a tentativa de colar a candidatura de António Costa à governação do país falham por completo tudo o que é essencial numa eleição desta natureza, e num momento tão particular como este. Vindo da candidatura de um partido (e de pessoas) com responsabilidades cimeiras no estado a que chegou a CML, talvez fosse boa ideia pôr alguma ideia no centro da campanha. Lisboa agradeceria.
Na verdade, Lisboa não precisa de ser governamentalizada ou desgovernamentalizada. Precisa, pura e simplesmente, de ser governada. Precisa de governo. De alguém que ponha ordem na CML e na cidade. Alguém que tenha ideias claras e capacidade para as pôr em prática. Porque é tudo isto que tem faltado nos últimos anos; e os correlegionários de Negrão (os tais que não aparecem nem nos cartazes nem em lado nenhum) são os rostos do desgoverno a que se chegou.

3.
Também Ruben de Carvalho tem dito, por mais do que uma vez, o que agora parece querer começar a desdizer. Ou seja, que está indisponível para entendimentos pós-eleitorais com António Costa. Porque o PS que lidera a campanha em Lisboa "é o mesmo que governa o país".
Na aparência coerente, esta posição não apenas confunde planos que não devem ser misturados como, acima de tudo, secundariza os interesses da cidade de Lisboa à agenda partidária dos comunistas. É legítimo, mas suspeito que os cidadãos não gostam. E fazem bem.
Se a direcção do PCP, ou por ela o candidato Ruben de Carvalho, anunciar que mudou de ideias, também fará bem. À qualidade do sistema democrático, com toda a certeza; e, com alguma probabilidade, à sua própria candidatura e a Lisboa.

MC