segunda-feira, 9 de julho de 2007

O equívoco das minorias

As duas sondagens publicadas ontem pelo "DN" e "Público" convergem no sentido de considerar que António Costa está muito perto de obter maioria absoluta mas não chega lá. As sondagens são realizadas por dois institutos credíveis, a Marktest e a Universidade Católica, e revelam que a oito dias das eleições falta a António Costa um vereador para poder governar a cidade de Lisboa, num cenário de estabilidade mas com a participação democrática de todas as forças políticas.
A eventual eleição de mais um vereador fará toda a diferença - a diferença que separa a estabilidade da instabilidade. Claro que Costa já garantiu que mesmo em minoria aceitará governar a Câmara de Lisboa. É esse o seu dever. Se ganhar as eleições deverá honrar o seu mandato, com maioria ou minoria, no integral respeito pelo voto soberano dos lisboetas. Mas a população da cidade precisa de ter presente o que significa ser eleito por maioria ou ficar na Câmara sujeito aos caprichos e aos jogos dos interesses partidários.
Se Costa for eleito por maioria dispõe de um mandato claro para realizar o seu projecto para a cidade. Pode definir prazos, assumir todos os compromissos estabelecidos com o eleitorado, cumprir a sua palavra, sem nunca pôr em causa que o fará no âmbito de uma cooperação com todas as forças políticas presentes na Câmara Municipal de Lisboa e que estejam dispostas a solucionar as dificuldades da cidade.
Se Costa for eleito sem maioria, como as sondagens indicam, vai ser extraordinariamente difícil concretizar o seu plano e cada uma das medidas que fazem parte do necessário "pacote" de intervenção urgente para Lisboa. Todos sabem o que acontece a um governo que não dispõe de maioria. Não concretiza o projecto que apresentou aos eleitores, reinando na maior parte das vezes a irresponsabilidade e a incúria em relação às verdadeiras soluções que têm de ser adoptadas.
O desgaste, a perda de tempo, a discussão inútil, a chicana política, instalam-se definitivamente e o Governo transforma-se num refém que tem de cumprir os rituais da submissão em conformidade com as circunstâncias de cada momento. Eu não defendo soluções minoritárias. Defendo soluções de maioria, sempre. Em Democracia as boas soluções são as maioritárias. Sem margem para equívocos.
Uma Democracia adulta gera, por regra, saídas maioritárias. Em favor do País, da transparência e da responsabilidade. A existência de uma maioria não significa, em lugar nenhum, a ausência de controlo das oposições nem quer dizer a ausência de diálogo entre eleitos e eleitores. O povo de Lisboa vai votar no próximo dia 15. Está clarificada a indisponibilidade dos outros partidos para quaisquer coligações. Todos se afirmam numa posição autista e pouco consentânea com os interesses da cidade. Se nada mudar, Lisboa não terá uma maioria a seu favor. E vão ver como a uma situação difícil vai somarse outra ainda mais difícil.
EMÍDIO RANGEL, CM, 7 de Julho de 2007