sexta-feira, 22 de junho de 2007

O perigoso argumento

Agora que, devido aos recentes cartazes de Fernando Negrão, se vai tornando clara a estratégia de ataque do PSD a António Costa, importa voltar a um tema já aqui glosado pelo Sérgio Faria.

Num recente cartaz de Negrão, diz-se qualquer coisa como, comigo quem manda não é o Governo, é o Presidente.

Esta referência clara à candidatura de António Costa, excluído o argumento jurídico, já tratado pelo Sérgio, merece-me três notas, cada uma menos abonatória para o PSD e para Fernando Negrão.

Primo, ir buscar o argumento da governamentalização do poder autárquico é querer tratar uma unha encravada com uma amputação: hoje dá jeito ao PSD esta técnica, amanhã se voltar ao Poder está aberto o precedente para que se possa perguntar, com toda a legitimidade, se o PSD controla todas as Câmaras do país que tiverem autarcas eleitos pelas suas listas...

Secundum, não é preciso ser um génio político para perceber que António Costa é o último dos candidatos socialistas a quem interessa estar associado a uma ideia de governamentalização do poder camarário de Lisboa. Mesmo quando era Ministro da Administração Interna e n.º 2 do Governo, António Costa era-o por mérito e competências próprias e não apenas como mero vicário do Primeiro-Ministro. Aliás, surge comummente referido com o outro grande peso-pesado político do Governo PS. Daí que a sua candidatura para Lisboa surja, desde logo, como uma afirmação de autonomia e de projecto político próprio, distinto do Governo PS, mas com a vantagem de com ele se poder articular.

Tertio, mesmo abstraindo desta duas notas, o que se explica por algum desespero que leva o PSD a não se preocupar com as possibilidades futuras ou a ver o óbvio(e em política quase sempre a memória é curta e de pouca valia), há que dizer o PSD está a dar um tiro no pé. A ser verdade o argumento de que há manipulação do poder autárquico pelo partidos e/ou pelo Governo, o PSD tem tantos pés de barro como qualquer outro partido ou candidatura. Se não mais. Recentemente vieram a lume afirmações que implicaram Marques Mendes na escolha de funcionários de empresas municipais, passando por cima da decisão de Carmona Rodrigues. É, por isso, no mínimo, pouco estratégico, vir agora com esta conversa.

Faz falta um Josh Lyman na candidatura de Negrão para ver se se evitam erros grosseiros destes...
DF