Marchas e arraiais
Nestes dias de intensa campanha eleitoral, onde se confundem arraiais e romarias, foi com muito interesse que verifiquei a atenção com que a esquerda, de uma maneira geral, acolheu o Arraial Pride e a tradicional «Marcha do Orgulho».
Claro que quando falo de esquerda ponho de lado o PCP, que porfia de uma posição muito própria sobre toda a temática LGBT. Refiro-me à esquerda do BE e do PS e que agora Helena Roseta se procura associar.
Fui importante verificar que estas três candidaturas (repito, BE, HR e PS) se tenham associado a esta manifestação de uma minoria / maioria que só quer ter os mesmos direitos, liberdades e garantias que todos os cidadãos activos.
Não entendo como é que, em pleno século XXI, as sociedades contemporâneas ainda não se organizam de forma livre, justa e tolerante. É inconcebível que ainda se assista a um conjunto de atitudes, jurídicas e políticas, que impedem o acesso de gentes de bem, de cidadãos livres, a um conjunto de direitos; exclusivamente por razões da sua sexualidade. Não é aceitável.
O Daniel Oliveira resume bem quando diz que:
«[as LGBT] Querem os mesmos direitos que todos os que os acham intoleráveis têm. Não querem simpatia. Não querem que os heterossexuais os achem esteticamente suportáveis para lhes concederem finalmente a cidadania plena. Querem apenas, sem ter de pedir licença. E fazem muito bem. Exigirem menos do que isso seria vergonha. Falta de orgulho»
Qualquer sociedade que se intitula livre tem de confiar nos seus concidadãos. Bem sei que no mundo latino, por natureza desconfiado, é muito aceitável que seja o Estado a decidir pela latitude a dar aos nossos direitos, enquanto indivíduos. Era assim, até há pouco tempo, na questão da Interrupção Voluntária da Gravidez. É assim, ainda hoje, na questão dos direitos das LGBT’s.
Do que podemos desconfiar? De que o sangue de um homossexual seja «sujo»? E o de tantos «heteros»? não o será também? Não devemos por a tónica no carácter não infeccioso do sangue?
Do que podemos desconfiar? De que duas pessoas do mesmo sexo tenham um tipo de amor diferente e que sejam impedidas de celebrar esse amor, através do rito do casamento? Porquê? No que é que esse amor é desigual?
Do que poderemos desconfiar? De que um pai por ser homossexual seja um mau pai? Ou que uma lésbica não possa ser mãe? Mas porquê? Não há tantos casos «hetero» de má parentalidade? Onde diz que é a tendência sexual que define quem pode e não pode ser pai ou mãe?
Do que podemos desconfiar? De que homossexuais não possam ser cidadãos plenos?
Não é aceitável essa desconfiança. Não no Portugal livre, democrático do século XXI.
Bem sei que, pelo que tenho vindo a assistir, que nos encontramos provavelmente na cauda da Europa em matéria de homo e transfobia, talvez apenas superado pela Polónia. Devemos, neste que é o ano europeu para a igualdade, fazer um esforço suplementar. Simplesmente ouvir. Talvez seja possível mudar alguma coisa.
Também sei que este país, de tantas desigualdades e de tanta falta de cultura, cívica, é capaz do melhor e do pior. Sei que pode ser difícil esperar que todo o país seja açambarcado por um súbito espírito tolerante; mas podemos, pelo menos, ambicionar a que hajam bons exemplos para servirem de catalizadores à mudança de mentalidades, ainda hoje, muito exigida.
Lisboa pode ser um desses exemplos.
Lisboa já é esse espaço de liberdade incondicional. Não é perfeito. Talvez nunca o venha a ser. Mas foi relevante ver que estas preocupações já não são de uma minoria marginal. Importou ver o Sá Fernandes na marcha, a Helena Roseta e a Ana Sara Brito no Arraial Pride, na Praça do Comércio. Importou ouvir a intervenção da Elza Pais ou ler a entrevista do António Costa à Sábado. Significa que estamos na fronteira da minoria / maioria.
Não tenho dúvidas da evolução da sociedade portuguesa, e o recente exemplo em relação ao aborto é muito convincente. E de que daqui a 10 anos estes sejam temas do nosso passado. Não pelo orgulho de quem hoje promove marchas, mas pelo orgulho de todos nós.
Nestes dias de intensa campanha eleitoral, onde se confundem arraiais e romarias, foi com muito interesse que verifiquei a atenção com que a esquerda, de uma maneira geral, acolheu o Arraial Pride e a tradicional «Marcha do Orgulho».
Claro que quando falo de esquerda ponho de lado o PCP, que porfia de uma posição muito própria sobre toda a temática LGBT. Refiro-me à esquerda do BE e do PS e que agora Helena Roseta se procura associar.
Fui importante verificar que estas três candidaturas (repito, BE, HR e PS) se tenham associado a esta manifestação de uma minoria / maioria que só quer ter os mesmos direitos, liberdades e garantias que todos os cidadãos activos.
Não entendo como é que, em pleno século XXI, as sociedades contemporâneas ainda não se organizam de forma livre, justa e tolerante. É inconcebível que ainda se assista a um conjunto de atitudes, jurídicas e políticas, que impedem o acesso de gentes de bem, de cidadãos livres, a um conjunto de direitos; exclusivamente por razões da sua sexualidade. Não é aceitável.
O Daniel Oliveira resume bem quando diz que:
«[as LGBT] Querem os mesmos direitos que todos os que os acham intoleráveis têm. Não querem simpatia. Não querem que os heterossexuais os achem esteticamente suportáveis para lhes concederem finalmente a cidadania plena. Querem apenas, sem ter de pedir licença. E fazem muito bem. Exigirem menos do que isso seria vergonha. Falta de orgulho»
Qualquer sociedade que se intitula livre tem de confiar nos seus concidadãos. Bem sei que no mundo latino, por natureza desconfiado, é muito aceitável que seja o Estado a decidir pela latitude a dar aos nossos direitos, enquanto indivíduos. Era assim, até há pouco tempo, na questão da Interrupção Voluntária da Gravidez. É assim, ainda hoje, na questão dos direitos das LGBT’s.
Do que podemos desconfiar? De que o sangue de um homossexual seja «sujo»? E o de tantos «heteros»? não o será também? Não devemos por a tónica no carácter não infeccioso do sangue?
Do que podemos desconfiar? De que duas pessoas do mesmo sexo tenham um tipo de amor diferente e que sejam impedidas de celebrar esse amor, através do rito do casamento? Porquê? No que é que esse amor é desigual?
Do que poderemos desconfiar? De que um pai por ser homossexual seja um mau pai? Ou que uma lésbica não possa ser mãe? Mas porquê? Não há tantos casos «hetero» de má parentalidade? Onde diz que é a tendência sexual que define quem pode e não pode ser pai ou mãe?
Do que podemos desconfiar? De que homossexuais não possam ser cidadãos plenos?
Não é aceitável essa desconfiança. Não no Portugal livre, democrático do século XXI.
Bem sei que, pelo que tenho vindo a assistir, que nos encontramos provavelmente na cauda da Europa em matéria de homo e transfobia, talvez apenas superado pela Polónia. Devemos, neste que é o ano europeu para a igualdade, fazer um esforço suplementar. Simplesmente ouvir. Talvez seja possível mudar alguma coisa.
Também sei que este país, de tantas desigualdades e de tanta falta de cultura, cívica, é capaz do melhor e do pior. Sei que pode ser difícil esperar que todo o país seja açambarcado por um súbito espírito tolerante; mas podemos, pelo menos, ambicionar a que hajam bons exemplos para servirem de catalizadores à mudança de mentalidades, ainda hoje, muito exigida.
Lisboa pode ser um desses exemplos.
Lisboa já é esse espaço de liberdade incondicional. Não é perfeito. Talvez nunca o venha a ser. Mas foi relevante ver que estas preocupações já não são de uma minoria marginal. Importou ver o Sá Fernandes na marcha, a Helena Roseta e a Ana Sara Brito no Arraial Pride, na Praça do Comércio. Importou ouvir a intervenção da Elza Pais ou ler a entrevista do António Costa à Sábado. Significa que estamos na fronteira da minoria / maioria.
Não tenho dúvidas da evolução da sociedade portuguesa, e o recente exemplo em relação ao aborto é muito convincente. E de que daqui a 10 anos estes sejam temas do nosso passado. Não pelo orgulho de quem hoje promove marchas, mas pelo orgulho de todos nós.
JRS